Iniciativas pirotécnicas – quando não pitorescas – são comuns na área de segurança pública. O mais novo episódio envolve o lançamento do “Cidade Integrada”, programa lançado pelo governador do Rio, Cláudio Castro. Em 19 de janeiro, como um mágico improvisado no picadeiro, este tirou da cartola o velho coelho de guerra. Supostamente, como de outras vezes, para contemplar as expectativas legítimas do público para os chamados problemas de segurança. Em situações anteriores tivemos outras propostas, como GPAE, UPP ou mesmo a malfadada “intervenção federal”.  Propostas que, em maior ou menor grau, foram anunciados com pirotecnia política. Como esperado, surtiram os efeitos desejados elegendo governadores, deputados, mas também fazendo a farra de empresários e fornecedores aderentes à área. Estes últimos, aliás, cresceram muito nos últimos 30 anos, a exemplo de outras áreas de governo. Cessado o fogo da palha, quem primeiro se encantou com o coelho teve que passar a conviver com o mico. Afinal, propostas mal projetadas, sem levar em conta o sistema como um todo, e sem viabilidade orçamentária e financeira, não se sustentam. Por outro lado, sempre faltou buscar compreender o ponto de vista dos profissionais envolvidos na ponta. Seus baixos salários, os riscos inerentes à função e a submissão a uma estrutura perversa. Em outras palavras, a necessidade social que se tornem profissionais de fato, e não objetos de treinamentos que lhes deformam ou  de regulamentos esdrúxulos que os submetem. Deu no que deu. Desmontado o picadeiro, o público foi retirado às pressas: “Acabou o milho, acabou a pipoca”. Uma vez encerradas, tais iniciativas passaram a sensação de ser um tiro n`água. Empoçada, é claro, de tanto se enxugar gelo. E tudo continuou como sempre esteve: piorando a cada dia, em um lamentável ciclo de violência que curiosamente cresce em espiral. Neste último, agentes do estado ora são usados para exibição de força, ora assumem o lugar de verdugos. Não por acaso envolvem-se em confrontos de maiores ou menores proporções, desgastando a imagem das polícias. O fato é que cada vez que isso ocorre, o que se incinera é a confiança na política. E esse, afinal, parece ser o definitivo legado da pirotecnia insistente com que se reveste as medidas para a segurança pública no estado do Rio de Janeiro.

Lenin Pires

Professor do Departamento de Segurança Pública e Diretor do Instituto de Estudos Comparados em Administração de Conflitos da UFF

 

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